Ministério da Saúde confirma que morte de criança no Ceará foi causada por ameba super-rara
A contaminação aconteceu através da água de um reservatório que abastece a casa onde a criança morava. Só há um registro confirmado no Brasil, de 1975, ...
A contaminação aconteceu através da água de um reservatório que abastece a casa onde a criança morava. Só há um registro confirmado no Brasil, de 1975, em São Paulo. Ceará investiga se criança morreu no Ceará por contato com ameba super-rara Arquivo pessoal O Ministério da Saúde confirmou, nesta segunda-feira (9), que a morte de uma criança de 1 ano e 3 meses no Ceará foi causada por uma ameba super-rara. Esse é o segundo caso que se tem registro no Brasil. O primeiro foi em 1975, em São Paulo. A menina foi infectada por uma ameba “Naegleria fowleri”, que causou uma doença chamada de “meningoencefalite”. ✅ Siga o canal do g1 Ceará no WhatsApp O órgão ministerial, inclusive, emitiu um alerta de evento nacional — que serve para indicar e orientar sobre possíveis emergências em saúde pública — após as análises confirmarem a causa da morte da criança. Ela foi infectada através da água que era usada em casa, que vinha de um açude. LEIA TAMBÉM: CASOS RAROS: Jovem com tumor que levou a mudança na cor de pele tenta obter remédio de alto custo na Justiça Bebê 'gigante' nasce com mais de 5 kg em caso raro no interior do Ceará; entenda "A água utilizada para o banho era proveniente de um açude que abastece o assentamento e não passava por tratamento, sendo retirada diretamente da torneira. Frequentemente, era necessário aguardar o esfriamento devido à alta temperatura", disse o documento do Ministério da Saúde. "No quintal, foram identificados uma cisterna, anéis de cimento e tambores utilizados para o armazenamento de água. A cisterna, que armazena água da chuva, recebe tratamento com hipoclorito de sódio e é destinada ao consumo humano. Já a água utilizada para cozinhar é fornecida por caminhão-pipa", complementou o documento. Menina tem morte confirmada por ameba rara A morte ocorreu no dia 19 de setembro de 2024, oito dias após o início dos sintomas, que foram: febre, sonolência, irritabilidade e vômito. "A gente recebeu os laudos, tanto da água, como do tecido cerebral, que foram enviados para o Instituto Adolfo Lutz e que foram positivos para a ameba 'Naegleria fowleri'. Então, você tem compatibilidade clínica, epidemiológica e laboratorial. Porque, além da lâmina, que o histológico era compatível, agora tem uma reação de PCR positiva no tecido cerebral", explicou o secretário executivo de Vigilância em Saúde, Antonio Silva Lima Neto (Tanta). "Esse caso passaria em branco se a família, de maneira muito acertada, não tivesse autorizado a necrópsia. Porque isso tudo ocorreu porque a família autorizou a necrópsia. Ou seja, num momento de luto, num momento de muita dor, mas a gente sugeriu e a família aceitou", destacou o secretário. No Brasil, o único relato na literatura científica sobre caso de meningoencefalite amebiana em humano causada por Naegleria sp. ocorreu em 1975, no estado de São Paulo. 🦠 A Naegleria fowleri é uma ameba de vida livre, um organismo unicelular que pode ser encontrado em água doce quente, como lagoas, açudes, rios e fontes termais. 🧫 A infecção ocorre por via nasal, através da inspiração, inalação e aspiração de água pelo nariz, com maior frequência durante mergulho. 👃 A partir das narinas, a ameba migra pelo nervo olfatório até o cérebro, onde causa destruição do tecido cerebral e inflamação, resultando na meningoencefalite amebiana primária (PAM). 💦 A Naegleria fowleri não é transmitida pela ingestão de água contaminada. Além disso, não pode ser transmitida de pessoa para pessoa. Caso inédito no Ceará Secretário executivo de Vigilância em Saúde do CE comenta caso suspeito de ameba rara. O secretário executivo de Vigilância em Saúde, Antonio Silva Lima Neto (Tanta), explicou que, normalmente, a ameba entra pela narina do paciente. “E provoca essa sintomatologia neurológica, às vezes muito rápido. E como é extremamente rara, normalmente os profissionais de saúde têm dificuldade de suspeitar de que se trata de um caso produzido por um germe tão raro”, reforçou Tanta. No mundo, os casos são de pacientes infectados após banhos em lagos, lagoas e outros corpos d’água. “No nosso caso aqui, o que a gente está investigando? É como se fosse uma água que passou por um reservatório e aqueceu naturalmente pelo sol mesmo. Isso pode ter favorecido essa reprodução”, explicou o secretário, que é doutor em saúde coletiva. Os sintomas da doença são comuns a outras enfermidades, como febre alta, faringite, dor de garganta, etc. A raridade dos casos dificulta, inclusive, a identificação por parte da equipe médica. Com isso, a suspeita da infecção pela ameba surgiu apenas após o óbito da criança. Ameba Naegleria fowleri, conhecida como 'comedora de cérebros' CDC/Divulgação “O nosso serviço de verificação de óbitos, nesse caso, foi capaz, através de seus profissionais, de identificar uma lâmina, suspeitar, coletar água, coletar fragmentos biológicos para enviar para confirmar aquele evento”, disse. O órgão estadual aguarda um laudo oficial confirmando a causa da morte da menina. Ele explicou que a ameba é, inclusive, difícil de ser rastreada, especialmente em grandes corpos d'água, como lagos, lagoas, açudes, etc. “Nesse caso, provavelmente, a gente foi capaz de identificar porque era uma coleção que estava num reservatório que foi aquecido”, complementou. No entanto, o secretário disse que análises feitas já haviam resultado positivamente para a presença da ameba na água que abastecia a casa onde a criança morava. Após identificar a ameba, a Sesa, junto à Prefeitura de Caucaia, adotou medidas para evitar novos casos. “Rapidamente a Sesa visitou o local junto com a secretaria municipal. Foram feitas diversas reuniões. Foi modificada a forma de abastecimento da água, foi aperfeiçoada a cloração, a filtragem”, destacou o secretário. Assista aos vídeos mais vistos do Ceará